17 December 2008

"The Apartment", de Billy Wilder [1960]

125 minutos, Preto e Branco.

Billy Wilder é um cineasta que ainda mal comecei a explorar. No entanto, já aqui escrevi uma crítica sobre um dos filmes dele, "Sunset Blvd.". Este realizador, tendo aparecido numa altura em que o cinema de Hollywood era já sinónimo de puro entretenimento, Wilder emigrou para os E.U.A. para escapar ao regime nazi, onde continua a sua carreira a escrever argumentos, destes, alguns policiais, estando na fila da frente do "film noir" com "Double Indemnity", 1944, tendo escrito o guião com Raymond Chandler, renomado autor de policiais; sendo este autor, um dos que, sem dúvida "has more than meets the eye".





"The Apartment", de Billy Wilder é uma obra de referência, e para fins de esclarecimento, porque há outros títulos parecidos; há também o francês "L' Apartment" de Gilles Mimouni, de 1996, com Romane Bohringer, Vincent Cassel e Monica Belluci que foi alvo de um remake, chamado "Wicker Park", de Paul McGuigan, 2004, com aquele actor giro e nem por isso assim tão mau quanto isso, o Josh Hartnett. Não vi o "Wicker Park", mas vi o "L' Apartment" e do que me recordo é muito bom, mas nada tem a haver com o "The Apartment" de que aqui falo.

Jack Lemon e Shirley McLaine estão soberbos. A estória parecerá simples, tal como muitas obras desta altura, as quais passavam pelas entrelinhas muitas ideias e considerações de sua justiça. Um grito surdo, apenas para quem o quiser ouvir, num filme de aparente comédia leve sobre amor e sem uma história de fundo que aparente ser razão para pensar, Billy Wilder constrói reflexões profundas sobre as acções do humano. Jack Lemon prostitui a sua integridade assim como a sua ética por uma subida mais rápida no mundo corporativo, cedendo o seu apartamento na cidade para os "rendez-vous" de colegas bem-posicionados na empresa.



Aqui, o alvo é a sociedade ocidental, as suas cidades, pejadas de prédios, virados para as ruas, ensombradas por arranha-céus. Escritórios longos e ordenados, mais compridos do que a vista alcança, onde tantas formigas obreiras se mantêm ocupadas pelo enorme bem de tão poucos, e pelo devido, o seu próprio.

Os cargos de poder munem estes homens de confiança, e, como se o poder não fosse sedutor, ou atractivo o suficiente, para homens tanto como para mulheres, a confiança obrigatória aos detentores de tais cargos, arma-os o suficiente para que poucos "inimigos" se possam defender e recusar a conquista. As mulheres sempre em lugares inferiores, ainda não haviam atingido o seu lugar na sociedade corporativa, e enquanto lutam por cumprir os seus deveres profissionais, assim como os seus objectivos pessoais, são abordadas com promessas vãs, que aos poucos as seduzem.




Este filme aborda não só o lugar do homem e da mulher na sociedade actual, assim como o do indivíduo quer seja homem ou mulher e a sua inevitável interacção com outros indivíduos, assim como a possível ligação emocional. Nesta sociedade moderna a espera é a constante, e a garantia, certamente, será a recompensa após a espera, e o cumprimento diligente. Subjugar, à promessa, não à certeza. A espera. A procura. O apaziguar do humano e mais ainda da mulher, uma vez que os homens eram os únicos detentores de cargos importantes. Envolver as mulheres em tais mundos seria como dar aos peixes a habilidade de respirarem fora de àgua, mas continuarem com barbatanas, inadequados para a movimentação terrestre. É claro que as mulheres são humanas e eventualmente haveriam de dar a volta, e com tal fúria, que muitas se tornariam e tornam iguais ao que criticam. Como factor de apaziguo social ver a publicidade/marketing que tanto promete, mas nada cumpre. Um factor de controle e auto-satisfação das massas. "Auto" por causa do aparente controle sobre o que vemos, multiplicado pela constante emergência de cada vez mais e mais canais de t.v., movimento recentemente reavivado com as t.v.'s interactivas. Na cena em Jack Lemon se confronta com a t.v., como homem, mas também como ser sensível, incomoda-o a publicidade assim como a programação de televisão absurdamente e obstinadamente máscula, com perseguições, filmes de cowboys, pancada, etc. No momento em que se decide por um programa interessante terá de esperar por uma mensagem dos patrocinadores.

Este filme é tão actual quanto na altura, pelo que aconselho o visionamento. Com um humor aguçado e crítico, a estória constrói-se rapidamente com constantes gags, e mais ainda para os mais atentos; através de uma abordagem leve, a estória é profusa de significados e de conteúdos. A direcção de Wilder está como sempre brilhante, com pormenores de camera sempre sóbria, mas no local certo. E uma grande direcção de actores, mas também com um elenco-destes...



Ele: - "All right I'll take you to the subway."

Ela: -"Like hell you will. You'll buy me a cab."

Ele: - "Why do all you dames have to live in the Bronx?"

Ela: - "You mean you bring other girls up here?"

Ele: - "Certainly not. I'm a happily married man."


in "The Apartment"



daigoro

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