23 May 2008

CAOTICA ANA, de Julio Medem, [2007]


CAOTICA ANA, de Julio Medem, [2007]

Quem me conhece cinematograficamente sabe, ou poderá lembrar-se que este realizador basco é um dos meus favoritos. "Lúcia y el Sexo", 2001, foi o filme que catapultou Julio Medem para a projecção internacional, tendo sido nomeado para vários prémios, colhendo outros tantos pelo caminho. O seu filme "La Ardilla Roja", 1993, constava dos filmes favoritos de Kubrick. Além de ser um autor em toda a acepção da palavra, escrevendo e realizando todos os seus filmes, é dotado de um humanismo muito próprio, transparecendo nos seus filmes essa sua qualidade. A divindade do humano, e não o misticismo do divino todo-poderoso. E, penso que é precisamente essa divindade que nos é imputada (por nós próprios), que acarreta o fatalismo e a tragédia latentes na sua obra.

Uma jovem mulher, Ana, que vive em Ibiza com seu pai, muda-se para Madrid após o seu potencial artístico ser descoberto por Justine (Charlotte Rampling). Por vezes Ana parece entrar em transe, estranhas ligações a vidas que ela não viveu surgem na sua mente, infligindo-lhe o seu sofrimento.

"Saber história serve para conhecer o passado;
mas também serve para nos protegermos dela."

Klaus, in Caotica Ana

Carregamos a história no mais profundo dos nossos seres. Tema este que já era explorado por Ken Russell, no seu filme de 1980, "Altered States". É este misticismo que Medem explora neste filme, nesta mulher. Certamente o filme mais pessoal de Julio Medem, uma verdadeira homenagem à mulher, a um legado, a uma força. A sua irmã, a quem dedica o filme, jovem pintora, que faleceu a caminho de uma exposição, surge através dos quadros e das animações do filme. E são precisamente todas estas perspectivas que lhe tiram coesão emotiva. Tudo caminha inexoravelmente para este fim, o fim do filme, o fim deste percurso para esta mulher, ou a continuação do legado, mas algures as coisas abrandam, quase param (é propositado), pois a personagem tenta recomeçar do zero, tenta fugir, mas de algum modo essa fuga quebra um ritmo ansioso que havia criado até aí, com interessantes conversas e perspectivas sobre o comportamento humano, e sobre a arte como registo da cultura, e com o aprofundar na mente desta jovem que carrega um peso demasiado grande para suportar.

" - Senhor, durante quanto tempo prevalecerá a morte?

- Enquanto as mulheres continuarem a ter filhos."

in Caotica Ana


daigoro

5 comments:

Sergio said...

Nao é só a ti que Medem influenciou cinematograficamente. cá o JE ainda sente o arrepio na espinho qd se lembra da beleza de "Os Amantes do circulo polar" ou a estoria de "Lucia e o Sexo" ...porra, nao vou estar aqui com meias medidas: O homem é um SENHOR, carago!! :-DDD
...e nao sou só eu q penso assim...ha outro leitor aqui do Cinecrack q pensa o mesmo...mas ultimamente tem andado "missing in action" :-SSS

qd vir este "Caotica Ana" logo "posto" o meu comment!! Estou ansioso!

Sergio said...

Prometido é devido! Vi e cá estou a comentar!
E o q tenho a dizer? O Medem é um SENHOR, carago! :-) :-) e mais nada!

Desenvolvendo mais um bocado: ha poucos realizadores a trabalhar actualmente q nos conseguem transportar tao facilmente p um mundo de mistura entre sonho e realidade como Medem! A criaçao destes sonhos nao so funciona linearmente como serve tb a criaçao de diferentes linhas de estorias q se acabarao por encontrar, nao como uma catarse, mas como culminar natural desta "trip".
A ajudar esta viagem temos paisagens naturais lindas, realizaçao com um balanceamento perfeito entre close shots e planos de fundo, optima escolha de actores (a Manuela Vellés como Ana é perfeita) e uma musica...ai a musica....se o filme é a viagem, a musica é o veiculo q te leva la!

(uma piquena nota: fiquei imensamente surpreendido pela pontuacao baixa deste filme no imdb. 5,7 ?? Concordo q nao será o mais perfeito d Medem, mas dai ate 5,7? Se calhar foi por ter uma mensagem anti-america :-( :-( )

Narizinho said...

Vi...e fiquei rendida! ADOREI MESMO!Confesso que ainda nao vi o filme lúcia y el sexo, embora ja tenha ouvido falar muito bem.Agora que vi este, fiquei AINDA com mais curiosidade.ah! e ja tenho outros deste realizador debaixo de olho :).

Sergio said...

Tenho lá em casa o "Pelota vasca. La piel contra la piedra" (http://www.imdb.com/title/tt0382898/) mas nao consigo arranjar legendas! :-(
Desde o "Vacas" (1992) q tenho tudo dele exceptuando este documentario sobre o movimento nacionalista Basco. queria mesmo ver...mas ta dificil! :-S

Sergio said...

Tornei a rever este filme.

O filme continua a passar aquelas sensaçoes tipicas d Medem (humanidade, cultura alternativa, internacionalidade, respeito pelo proximo, etc..) mas achei, talvez por ser um filme bastante pessoal, q a eficacia d mensagem dele é afectada por mensagens mais ""terrenas" e directas, como a guerra n Iraque.
Pareceu-me q nao houve subtileza n inserçao disso n historia, está mt "puxado".
..Um bocado como algumas (muitas) mensagens obvias no filme "She hate me" d Spike Lee.... :-S

Mas continua a ser um dos meus realizadores favoritos....p qd o proximo filme, ó Julio? :-D