Uma nova versão de Persépolis contra o regime iraniano (in Publico)
Dois opositores iranianos alteraram a célebre banda desenhada Persépolis, de Marjane Satrapi, e rebaptizaram-na Persépolis 2.0, para denunciar as condições em que foi reeleito o Presidente Mahmoud Ahmadinejad e protestar contra a repressão no Irão.
Em Persépolis, publicada no início desta década em França e adaptada ao cinema em 2007, a autora de origem iraniana conta a queda do regime do xá em 1979 e o início da Revolução Islâmica. Conhecidos pelos nomes de Sina e Payman, os dois jovens opositores mantiveram os desenhos a preto e branco da versão original e adaptaram os textos à actualidade.
As manifestações contra o xá de 1979 tornaram-se assim nos protestos contra a fraude eleitoral denunciada pelos opositores após as eleições presidenciais de 12 de Julho. E há uma menina que sonha todas as noites, na sua cama, com um futuro melhor.
"Disseram que queriam fazer qualquer coisa com o meu trabalho e eu autorizei", explicou à AFP Marjane Satrapi.
Como muitos iranianos na diáspora, os dois opositores, que actualmente vivem em Xangai, acompanharam longe do seu país as eleições no Irão e as suas consequências. "Passámos do desespero à cólera e depois à tristeza. Ficámos impressionados pela coragem do nosso povo e em cólera contra o Governo e o processo fraudulento", contam.
A banda desenhada original de Marjane Satrapi, em quatro volumes, é muito popular no Ocidente, mas também no Irão, e o filme que lhe deu origem obteve em 2007 o prémio do júri do Festival de Cannes.
Segundo Sina e Payman, mais de 100 mil pessoas acederam em algumas semanas ao site http://www.spreadpersepolis.com/, onde pode ser visto o Persépolis 2.0, sobretudo a partir de Estados Unidos, Irão, Itália, França e Canadá.
A censura da Internet no Irão complica o acesso, mas os autores dizem que têm recebido inúmeras mensagens de correio electrónico de iranianos "a agradecer a divulgação ao mundo o que se passa no Irão".
"Fomos duramente atacados por vários jornais ultraconservadores que são como porta-vozes do Governo. É um bom sinal", adiantam.
Em Junho, Marjane Satrapi tinha apelado à comunidade internacional para que não reconhecesse a reeleição do Presidente Ahmadinejad, que qualificou de "golpe de Estado", numa conferência de imprensa no Parlamento Europeu.
No entanto, mostrou-se reservada quanto ao impacto de Persépolis 2.0: "Informar um pouco as pessoas já é muito. Com o nosso trabalho não temos senão pequenos impactos. Mas é preciso milhares de milhões para se mudar alguma coisa".
Os iranianos estão muito orgulhosos do seu trabalho. "Estas imagens descrevem os acontecimentos de há 30 anos, mas reflectem igualmente bem a situação após as últimas eleições. Em 1979 como em 2009 houve manifestações em massa contra a repressão. Esperemos que desta vez terminem de outra maneira".
Mas esta é já outra época. Em Persépolis 2.0 a pequena rapariga aconselha a mãe a não ler jornais porque "mentem todos" e a ligar-se à Internet "porque agora a verdadeira informação está online".