01 April 2008

"The Tenant" , by Roman Polanski [1976]


The Tenant - Le Locataire [1976]
Se o minimalismo da tensão cinematográfica foi criado e executado usando apenas duas notas na composição de John Williams, para Spielberg, em "Jaws", tenho que estabelecer o paralelo com este filme de Roman Polanski. Filmado na altura em que o jovem realizador já se encontrava a viver em Paris, depois do assassinato de sua esposa pela família Manson, Polanski toca um verdadeiro concerto com tão poucas notas e menos ainda instrumentos. Desconcertante para dizer o mínimo, a personagem interpretada pelo próprio Polanski, vê-se constantemente forçada a tomar decisões que não quer tomar. É um ser indeciso, sem grande capacidade, ou força interior, pelo menos aparente, até que se torna compulsivo no comportamento, e mais uma vez, não por vontade própria, sente-se compelido a agir. Como se o destino estivesse já mais do que traçado, e de forma alguma ele lhe conseguiria escapar, por mais que se esforçasse. Quem já viu o filme poderá compreender um pouco melhor esta minha apreciação. Quem não viu, não sei do que está à espera. O filme deambula entre a comédia-negra, e o thriller/suspense, dificilmente decepcionando qualquer espectador.

A personagem de Polanski procura um apartamento em Paris, encontrando um aparentemente perfeito, mas que ainda não se encontra vago. A locatária anterior tentou cometer suicídio, encontrando-se ainda no hospital em estado grave.

O filme pisca o olho a Hitchcock, com uma construção metódica, envolvendo o telespectador num cada vez maior turbilhão de demência, deixando-nos em suspense quase desde os primeiros minutos. Uma constante expectativa que seria como algo que, sem que reparemos, penetrou a nossa pele e move-se por debaixo desta, inatíngivel, intocável. Por mais que tentemos coçar.

O filme tem um bela cinematografia, quer nos exteriores, (Ah, Paris...) assim como no edifício que conduz ao apartamento tornando-se um lugar claustrofóbico, acentuando o isolamento da personagem, para o qual a janela para o exterior e até mesmo os espelhos no seu interior apenas ajudam a enclausurar ainda mais esta personagem. Se uma falha existe, poderá ser considerada a de o início ser algo lento, algo que é absolutamente necessário para a determinação da psicologia da personagem, e da vida aborrecida que este leva, (ao ponto do seu emprego ter alguma parecença com o de Kafka) assim como o seu envolvimento em toda a estória enquanto entra num mundo novo.
A não perder. O terror já não é o que era.

"Cut off my head.
Do I say, me and my head, or me and my body?
What right does my head have to call itself ME? "

Trelkovsky, in "The Tenant"

daigoro

2 comments:

DearJohn said...

POIS é. safa.

NAO SEI ONDE TINHA A CABEÇA!

A verdade é que também nao sei do que estão à espera as pessoas que ainda nao viram a PELICULA....


Monsieur Bruno

MEU GRANDE CÃO
TENS TODA A RAZAO!

Monges do Nada said...

Vi o filme ontem, e gostei bastante!
Mas devo confessar que o esperava um pouco mais incomodativo. Em vez disso, penso ter sentido o medo, nos seus momentos "psico" e ao mesmo tempo "rear window".
O filme está repleto de bons momentos cinematográficos e pormenores que realçam a estranhesa da estória, no entanto, tudo me leva a crer que a relação do personagem com a "antiga inquilina", deve ser melhor estabelecida no livro.