30 September 2008
"Akahige" - "Red Beard", de Akira Kurosawa [1965]
hmmmm. Paciência. Muita Paciência. Paciência e dedicação. Neste filme, Kurosawa apresenta, mais uma vez, a sua firmeza inegualável, a sua perfeita direcção, quer de actores quer de câmara. Kurosawa, reverenciado e adorado por todos no set de filmagens, é apenas referido como Sensei, o mestre. Mas não o mestre, senhor todo poderoso, omnisciente, mas sim o mestre em constante evolução e aprendizagem. Sensei filmava um único take. Um único ângulo (frame). A perfeição exigida aos actores, e demais equipa, nos ensaios, transparece nesse único take final, que nós público, absorvemos sem qualquer estranheza e com total reverência pela perfeição da imagem e da acção.
Um recém formado médico, Yasumoto, vai trabalhar para a clínica onde o Dr. Niide (Red Beard), interpretado por um sempre fabuloso Toshiro Mifune, é director e administrador, dirigindo-a com um pulso de ferro, mas onde é visto por todos com a mais alta das reverências. Yasumoto, arrogante, considera este posto de trabalho abaixo das suas qualificações, assim como tem outras razões para julgar a sua colocação na clínica como uma forma de o afastar (pelo pai dela) de uma rapariga com quem esteve noivo. As aspirações deste jovem médico inexperiente são as de se tornar um dia o médico principal do Shogun, o senhor feudal de todo o Japão.
Com 185 minutos (uiiii, que dói....) de duração, e sendo a Preto & Branco (medo....) , este filme não será para todos. Considero que há apenas um momento do filme, que aos olhares americanizados, e não apenas americanos, pudesse ser considerado como supérfluo, mas serve variados propósitos. Um idoso às portas da morte, decide contar a sua triste, mas inspiradora estória. Auto-sacrifício para um propósito maior. Uma estória paralela que ilustra o sentimento global de todo o filme.
Akahige apresenta também um retrato cruel mas inspirador com uma mordaz crítica social e política no fundo, algo que surpassa fronteiras e tempo.
Este filme é uma celebração da vida, assim como uma homenagem a todos os que, com uma postura altruísta, dedicam a sua vida a ajudar os outros. Tão belo quanto cruel. A ironia da vida tão simplesmente magnânime.
Fogo e Água, de facto.
daigoro
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