28 September 2008

"La Jetée" de Chris Marker [1962]




"La Jetée", traduzido livremente para português: O Cais, sendo também um possível jogo com o quase homófono, Ali Estava Eu (Là J'étais). Curta épica de Chris Marker que deu origem ao americano e renomado filme de Terry Gilliam, "Twelve Monkeys", [1999], cujos direitos Marker cedeu sem exigir nada em troca, e sem querer sequer interferir na obra segunda. Segundo Marker, se a a sua curta havia servido para inspirar algo mais, pois então que o levassem avante sem contemplações, e que explorassem as suas ideias até à (virtual) complecção.

As possíveis várias interpretações fónicas do título desta obra, são também indicativas das possibilidades interpretativas e generativas de pensamento desta e de todas as obras de Marker (pelo menos das que já tive o prazer de assistir).



Marker é obcecado pela memória e suas constantes sobreposições de fabricações interiores, re-interpretações normais e naturais, mesmo automáticas, para o ser humano, sem que com isso nos preocupemos em demasia. Marker adorou o conceito do filme "Vertigo" de Alfred Hitchcock [1958], conceito esse presente neste filme em que um homem é obcecado por uma imagem, neste caso, de infância, de uma mulher. Após a 3.ª Guerra Mundial, os humanos vivem no subterrâneo como forma de escapar às austeras condições ambientais no exterior, efectuando experiências de viagens no tempo na tentativa de recuperar/recolher formas de sobreviver no "presente".

Esta curta-metragem, de 27 minutos, com um ritmo assombroso, e imagens lindíssimas, é contado em forma de foto-novela, com um momento, um singular momento, que é tão belo quanto fugaz, tão etéreo quanto o presente (o conceito de presente, de agora). Esse momento é a verdadeira homenagem ao cinema. A verdadeira homenagem à imagem-em-movimento, quer se acredite quer não, efectuada num filme que se "movimenta" imagem a imagem.

Tenho vindo a admirar cada vez mais a complexidade da obra deste artista em todas as suas vertentes. Além de se dedicar a uma intimista visão do documentário-filosófico (Marker estudou com Jean Paul Sartre) numa perspectiva mais cinematográfica, é também desde os inícios do video um entusiasta.

Muito mais há para explorar sobre este autor, pelo que isso deixarei aos mais interessados, pela vídeo-arte, e por conceitos que se misturam como cinema, vídeo, futuro e presente. Como extra ver o meu post anterior, [Room 666, de Wim Wenders] .



daigoro

1 comment:

Sergio said...

Bem deste filme tenho reaccoes diversas....
Conceptualmente é muito interessante (o facto de ser +/- com still pictures) a estoria é mt boa (mas por vezes é um bocado imperceptivel o q quer ser transmitido) mas a cena q te referes é do mais espectacular q me lembro no cinema.apanha-nos despercebido e traz ao de cima o q é a raiz do cinema. A verdadeira homenagem!
O filme (curta metragem) vale a pena nem q seja só p ver essa cena!