27 September 2008

"Cruel Story of Youth", de Nagisa Oshima [1960]


Nagisa Oshima famoso no ocidente pelo seu filme "In the Realm Of The Senses" [1976] ("Império dos Sentidos") filma com particular crueldade humana as opções e vivências de um jovem casal numa cidade japonesa, umas duas gerações pós 2.ª guerra mundial, altura de redefinição cultural para o povo japonês. A liberdade assumida pelas gerações que dela aparentemente gozam com total irreverência, é a mesma que os prende às responsabilidades que dela têm de advir sem que as gerações anteriores os tivessem avisado, ou ensinado. Até porque estas não sabiam, nem haviam lidado com tal possibilidade. A personagem do pai de Makoto que não sabe como repreender a sua filha mais nova, ao mesmo tempo que a mais velha se queixa de que ele não a deixou fazer o que ela pretendia quando esta era mais nova.

Kyoshi conhece Makoto, salvando-a de ser violada por um homem que lhe dava boleia para casa. Apesar de ela e da amiga terem outras opções para se dirigirem às suas respectivas casas, decidem pedir boleia, não sem sondar os homens a quem as pedem, por considerarem que é mais excitante. Kyoshi é duro para com Makoto, questionando algumas das suas opções e confrontando-a com a sua própria sexualidade, e a procura da mesma. A violência com que Kyoshi trata Makoto, como se de um aviso se tratasse, é um abanão à clamada irreverência e rebeldia juvenis, uma tentativa de trazer alguma perspectiva às irresponsáveis atitudes de Makoto. A impetuosidade típica dos jovens, da sua raiva (mal dirigida) e revolta aparentemente sem sentido leva-os a perpetrar actos sem considerar as consequências, tornando-se ambos criminosos extorquindo dinheiro de homens mais velhos que tentam levar "a sua vontade" com Makoto. Esta ambiguidade está latente nas atitudes dos jovens aqui representados, nas suas atitudes e considerações, assim como na filmagem de Oshima, ora concisa e controlada, ora tremida e facilmente distraída/atraída por/para pormenores sem aparente importância.




O uso da cor, e da iluminação dos quais Oshima faz uso são assaz brutais , ficando a opção do frame como o melhor (na minha opinião) toque do filme. Um verdadeiro "delicatessen" profuso em significados e ideias, ilustrativo de geração perdida (algo que sempre existiu e sempre existirá) mas que aqui se ultrapassa a si próprio e ao tema do sexo na juventude. Não há elogios suficientes para o trabalho de camara, que não é pomposo e gritante, mas subtil, genialmente subtil. Desde panorâmicas lentas e pausando em momentos chave, até ao uso de "camara na mão", algo pouco usual nesta altura coincidindo com o movimento de nouvelle vague que por esta altura explodia por várias partes do mundo cinematográfico.

daigoro

1 comment:

Sergio said...

Uau...dizes coisas mt lisongeiras sobre este filme...ate me da vontade de ver! :-)
...mais um p o back-log....(se dps sempre o vir o comentario aqui no blog nao escapará!)