27 September 2008
"Chambre 666" de Wim Wenders, [1982]
O que é cinema hoje em dia, e de que forma pode ser considerado/julgado. Quem dita as regras e para onde se dirige? A t.v. substituiu o cinema? Qual o lugar do cinema na era do vídeo (hoje em dia dvd)? O cinema está em extinção, ou estará em breve extinto?
Wenders escreveu numa folha de papel um conjunto de questões que envolvem a morte do cinema, a televisão como substituto, a evolução do público, o vídeo como novo meio confortável de disfrutar dos mesmos filmes, mas numa perspectiva bem menor, que depois "serviu" a cineastas variados durante o festival de Cannes. Sozinhos, sentados ou em pé, numa sala, discutem para si, e na "confidência" do público, o futuro do Cinema. Godard diz que a imagem do cinema, enorme, assusta, e que as pessoas hoje em dia preferem ver uma imagem muito pequena bastante próximo, do que uma imagem enorme de longe. A perspectiva do ponto de vista do espectador, e a forma como quer lidar com essa emoção veículada de forma incontrolável (para o espectador) no cinema, é de fuga fácil na televisão (ou em casa). Este parece ser um ponto importante, na minha opinião. Já se passaram mais de 25 anos desde a execução destes "monólogos" e a discussão, parece-me, continua a ser pertinente. A arte caminhará para onde puder, e interessar aos artistas. Enquanto houver interesse individual em filmar algo, haverá também algum indivíduo interessado em contemplar essas imagens, assim como entregar as suas emoções ao controle dessas imagens. Este filme não o é na verdadeira acessão da palavra, e passados 25 anos o maior interesse será em ver as previsões certas e/ou erradas dos vários cineastas, e para os mesmo interessados pensar sobre estas questões e outras paralelas ou divergentes.
Wim Wenders brilhante cineasta, lançou este repto a outros cineastas, que recentemente tive a sorte de encontrar neste ciberespaço de perdidos e achados. Na realidade nada nem ninguém estará perdido desde que nesse dado momento se considere como tal. A consciência desse momento, dessa situação, torna-a objectivamente real, mas não em relação ao presente, mas sim em relação a um passado. O futuro é indeterminado; mas no passado próximo, desde que a memória exista, ainda que alterada pelo próprio, é definido, mesmo que incompreendido. A questão sobre quem ou o que está perdido será de resposta pessoal, mas se se consegue formular uma resposta, não se estará então perdido.
Esta obra levanta muitas questões, que a mim pessoalmente também me preocupam, somadas a outras questões que a maioria das pessoas nem sequer pensa ou se importa. Uma constante interacção ou permuta existe entre passado e futuro, uma vez que o presente não existe. É apenas um conceito.
daigoro
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3 comments:
Bem....este (tele)filme deve ser bue dificil de arranjar! tens isto? arranjas? tem legendas?
Não é um filme. É um repto. Bem pensado, bem filmado (excelente cenografia a do quarto de hotel, com uma televisão no fundo do quarto, ao lado da cadeira dos cineastas) e muito bem cortado. Os génios que aqui figuram e as suas opiniões são tão interessantes na altura, como na actualidade. Sim, tenho, e, sim, tem legendas, em inglês e em português.
"tele", pq assim teria de ser. Esta obra provocadora (de pensamento) apenas teria um fim possível, a da sua exibição num ecrã de televisão, como que um augúrio de uma batalha, enfim.
daigoro
Sem dúvida que se trata de um importante "documento" sobre a arte cinematográfica e ainda mais se tivermos em conta que os seus protagonistas são aqueles que a desenvolvem, nos mais variados países e embuídos nas mais diversas culturas...
Achei fenomenal a forma como Godard aborda toda a questão, um verdadeiro pensador e ao mesmo tempo um poeta, reflete sobre o cinema na sua forma de arte, aborda as questões que para ele são relevantes apontar numa era de mudança para todos os envolvidos no meio. Depois temos a possibilidade de contrapôr estas observações com as que vêm do cinema em clara ascenção, onde a componente económica é sem dúvida a mais importante, Spielberg, apesar de ser importante, no meu entender, mostra-se aqui como um técnico de marketing onde as únicas palavras que ouvimos sairem-lhe da boca são milhões...milhões e fazer milhões, para ter milhões e fazer milhões. Não digo que não seja importante, mas onde foram as considerações sobre a arte... afinal é disso que se trata...não?!
Também é verdade que se Godard é quem tem razão, neste momento luto para entrar e fazer uma arte que se encontra morta...
Sem dúvida que é importante considerar estes testemunhos, principalmente se em nós existem ambições que colidem com estas prespectivas. Pessoalmente, ficaram-me na memória momentos que até hoje me tinham passado despercebidos e ao mesmo tempo outros que eram tão actuais na altura como o são agora... é altura de absorver e voltar a olhar...e procurar ver desta vez!
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