06 July 2009

Aquele Querido Mês de Agosto

Foi muito fácil ter 2 opinioes bem distintas sobre este filme.
Como portuguesa (em condicoes ainda mais especiais) achei o filme delicioso. O retrato social das aldeias e vilas portuguesas é do mais real que pode existir. Tem intervenientes (quase sempre reais) que existem aos pontapés por esse Portgal afora, Portugal nao urbano. Sao pérolas atrás de pérolas, e destaco sem dúvida a velhota que só diz "Saudinha!"
Como espectadora de cinema o filme (se é que assim lhe posso chamar) é muito mau, e uma das razoes para isso é também a razao pelo qual gostei, ou seja, como portuguesa gostei do retrato apresentado, mas tenho a nocao que qualquer pessoa que nao esteja familiarizado com o contexto cultural português nao topa nada do filme, mas mesmo nada!
Para comecar o "filme" apenas nos apresenta interacoes com os diferentes habitantes de uma vila sem qualquer linha condutora, ou seja, muito, muito difícil de seguir. Quando finalmente existe uma história ela é fraca e desinteressante, isto para nao falar nas coisas nao explicadas que acontecem...
Por isto mesmo, acho perfeitamente normal que umas quantas pessoas tenham abondonado o cinema passado uma meia hora do filme ter comecado. Se nao fossem as Músicas dos Diapasao, a raposa atrás das galinhas no galinheiro, o Paulo que se atira da ponte no dia de Carnaval, os amperes que nao aguentam no dia da festa, a rádio Arganil com o seu programa "Nós,.... as mulheres!" (do mais ao estilo da Rádio Lafoes, foes, foes, foes!), e o "Saudinha!", eu também nao teria gostado. Mas foi engracado rever as coisas mais puras que acontecem em todas as vilas e aldeias de Portugal.

6 comments:

sof* said...

nao vi o filme mas sempre tive muita fé na mensagem que transmite. mesmo nao o tendo visto acredito que posso dizer que sublinho a tua opinião.

Sergio said...

Mais outro filme do FilmFest! :-)

Eu nao concordo q o filme seja mau! ...ok, tem GRAVES problemas em saber o q quer ser (documentario, filme-dentro-de-filme, romance, comedia, ...??), problemas esses q me pareceram advir de problemas (de orcamento??) na producao.

Mas é interessante constatar q enquanto documentario das pessoas, gentes e costumes do Portugal mais profundo (a 1° meia hora), o filme convence-nos totalmente!
Primeiro n maneira como a camara deixa falar as pessoas e as deixa ser exactamente como sao (afinal, nao é esse o objectivo de um documentario??),
Segundo, porque o tom de comedia está muito natural, totalmente inserido no contexto e mais surporeendente, totalmente fora do controlo do realizador: por isso da-lhe imensa autenticidade!

Mas ao fim de 1 hora de filme, nota-se q ouve uma intencao deliberada d encontrar um mobil p o filme. Personagens. Uma historia.
e assim o filme fugiu do registo anterior e passou a ser um filme c maus actores (um ou outro ate escapam), com uma historia bastante banal.

Um conselho a Miguel Gomes....q tal revisitar o material filmado e fazer "o documentario d aldeia de Gois"...isso é q era! :-)

M said...

Eu tive a impressao de que o "filme" foi exactamente aquilo que o Miguel Gomes pretendia: uma mistura de documentário passivo com uma historiazeca interpretada por pessoal das terreolas, escolhidos "no café".

Acho que transmite uma ideia muito redutora do que é Portugal, especialmente se tivermos em consideracao que o filme está a ser divulgado internacionalmente. Alguém que nao seja Português, nao percebe que o filme retrata apenas a realidade de alguns dos sítios mais recônditos do país. No fundo, é um retrato social, de usos e costumes, mas de um espaco geográfico muito limitado.

Em determinados momentos, senti mesmo que as pessoas estavam a ser demasiado expostas e até um bocado ridicularizadas, porque a intervencao delas provoca inevitavelmente ondas de riso (e contra mim falo!).

Sobre a banda sonora: embora concorde que qualquer outra alternativa nao se enquadraria, nem resultaria bem, ouvir o best of da música pimba Portuguesa durante 2 horas e 25 minutos foi inacreditavelmente penoso.

Bottom line: eu nao me enquadro no grupo de pessoas que considera este trabalho uma obra prima. Em absoluto.

Sergio said...

M...em relacao ao teu 2° paragrafo: mas nao é pratica comum existirem filmes q retratam uma realidade mt especifica de um pais/terra/cidade, no entanto, nao reflectindo a realidade do pais? por exemplo: podemos dizer, em semelhanca ao teu comentario, q quem vir o "Tempo dos Ciganos" do kusturica fica com uma ideia errada d Jugoslavia d altura? sim, fica! Se pensar q aquilo é a Juguslavia toda! mas se inserir na realidade q pretende retratar acho q esta optimo! o mesmo se passa neste filme (na minha singela opiniao).
O q pode acontecer é haver confusao entre retrato simples de pessoas e usa-las perante a camara, dando a impressao de gozo! (embora eu tb n tenha sentido isso). foi isso q sentiste no filme?

Sev said...

Um filme de portugueses, sobre portugueses, para portugueses. Ponto.
Não sei como é que um filme destes vem parar ao Filmfest em Munique... cá para mim alguem deve ter uns amigos por cá. Era vê-los a sair pela porta fora, parecia que tinham aberto um galinheiro com raposa lá dentro...
O filme claramente tem duas partes bem distintas, a parte do "documentário" e a parte da "ficção". Entre áspas porque nenhuma das partes consegue efectivamente ser quer documentário, quer obra de ficção que se preze.
Mas a verdade é que este filme... err esta coisa, vá... consegue retratar bem o Portugal das aldeias, na minha opinião porque as pessoas e os ambientes são tão verdadeiros e por vezes até ingénuos que tudo sai naturalmente, sem esforço nenhum - o que tornou a parte do documentário "a walk in the park" em termos de trabalho cinematográfico. Quando chega o filme... fraquinho fraquinho.

Atrevo-me até a dizer que este filme consegue retratar muito bem não só o Portugal das aldeias mas também o Portugal dos projectos falhados... quer-se fazer uma coisa, mas não há matéria prima nem ponta por onde se lhe pegue. Foi assim este filme... pareceu que queriam fazer um filme e saiu esta coisa... Bem, para não falar daquela última parte completamente surreal e saída assim do nada...

Só tive pena de não ter dado para dar uma perninha... que aquelas musiquinhas convidavam lá isso convidavam!

M said...

"mas nao é pratica comum existirem filmes q retratam uma realidade mt especifica de um pais/terra/cidade, no entanto, nao reflectindo a realidade do pais?"

Claro que sim. Mas neste caso: tu vês os nomes das localidades a aparecer no écran e percebes perfeitamente que só vais ver cenas passadas em terreolas. E sabes que é redutor. Um estrangeiro, à partida, não faz ideia (a não ser que leia a sinopse...).
E depois, este filme não se foca numa etnia específica, que se pode identificar à partida. Mostra pessoas normais (excluindo o Paulo Moleiro, vá...!), na sua vidinha normal. De aldeia.

Sobre a impressão de gozo: sim, foi isso que quis dizer com a exposição das pessoas. Não digo que a intenção do realizador fosse "gozar" com elas. Mas quem é que não se riu da senhora que, na sua pureza e ingenuidade, conta que tem a fala alterada porque teve um AVC no ano passado (a mesma da "Saudinha!")? Ela não estava a actuar, nem estava a dizer nada engraçado. E no entanto, eu e as pessoas que estavam no cinema, rimo-nos... Não há malícia ou intenção de gozo, mas no fundo senti que o resultado foi esse.