18 March 2008

"Benny's Video"de Michael Haneke [1992]

http://www.imdb.com/title/tt0103793/

Um desconcerto do início ao fim. Com a marca indelével do cinema de Haneke, de certa forma chocante, e depois, expectante, nesta obra . Uma figura gelada é o centro da estória enquanto tudo em sua volta se desmorona. Um deserto claro, estanque, impenetrável de emoções, que é filmado, pela personagem, e por Haneke, e que vive e revive tudo através do seu equipamento vídeo. Mais uma complexa experiência sobre o ser humano, não complexa na desenvoltura da estória, mas na complexidade que nos envolve nesta teia a todos como humanos desde a carne de que todos somos feitos, até à mente que nos determina a todos diferentes. Mas há uns mais diferentes do que outros. Como disse o Afonso, não somos todos iguais, e eles andam aí, iguais aos outros. Podem ser qualquer um de nós.

Benny é um filho negligenciado pelos pais de estatuto médio-alto. Ele passa os seus dias e as suas noites no quarto entre equipamento vídeo, de persianas baixadas (uma camera ligada aponta para o exterior) e entrecortando o seu visionamento do mundo violento nas notícias, com vídeos alugados, sempre com violência sem sentido, em produções "americanas" onde a violência é quase sempre bastante explícita. Revê de forma obsessiva a morte de um porco da quinta num vídeo caseiro feito por ele, chegando ao ponto de em slow-motion observar o momento do impacto da arma usada na morte do porco.
A violência explícita nas cenas "não filmadas", a frieza na observação e detenção de Benny, a absorção da violência pelos outros personagens, a cínica revelação da filmagem que confirma a sua maturidade, a sua passagem a Homem. Enfim, um sem número de coisas que comprovam que este filme é sem dúvida do interesse e levanta muitas questões, sem a certeza das suas respostas.

Ainda mais interessante será saber que este filme antecede "Funny Games" (http://www.imdb.com/title/tt0119167/ ) e que o mesmo actor, Arno Frisch, do filme surge aqui, embora mais novo. Vocês lembram-se do stone-cold-blodded-killer.

Para os interessados em obter este filme, aqui têm um link torrent com a possibilidade de fazerem download do mesmo, com legendas em inglês: http://thepiratebay.org/tor/3465874/
Tentem fazer upload do ficheiro.

2 comments:

Sergio said...

Nao gostei!
Concordo com tudo o que dizes, exceptuando a parte "este filme é sem dúvida de interesse e levanta muitas questões, sem a certeza das suas respostas"! :-)
O filme, embora tenha todos os elementos de analise de violencia quotidiana q enunciaste, é CHATO de ver como tudo! Exceptuando uns 10 min na parte central do filme onde todo o mobil da estoria acontece (e ai sim, a tensao cresce) o resto d filme é pura agonia...(ainda falam dos planos longos e desinteressantes d Manoel...)
Bottom line: p se criar tensao tem-se q observar reaccoes, nao basta por um personagem sem elas. A tensao so resulta por bipolaridade d pontos de vista!

Mas uma coisa é certa...neste filme ja se conseguia ver a capacidade unica de Haneke em lidar (e comfrontar os personagens) com momentos unicos de violencia...violencia clinica...violencia em tubo de ensaio ...violencia "envolta em branco" ...violencia p a cabeça! (mas p isso é precisso ver Caché ou Funny Games)!

daigoro said...

ESTE COMMENT PODE CONTER SPOILERS

Não sei de que forma terás visto este filme, mas de forma alguma conseguiste entender todo o pesar desta estória complicada, ou melhor, não será por falta de compreensão, mas sim, por falta de envolvimento, de abertura.

Referes uma parte central, que presumo que te estejas a referir ao momento em que ele usa a arma em casa aquando da visita da rapariga. Esta cena acontece aos 25 minutos de um filme que tem 1h45m. Logo não é o centro da estória em termos temporais, e nem o será em termos da estória. Por muito horrível e chocante que seja essa cena, a reacção dos pais revela essa bipolaridade, revelada inclusivamente desde o início do filme quando somos confrontados com o persistente voyeurismo gore de Benny, no vídeo da morte do porco,e nos filmes que vê violentos e sangrentos, sobremaneira gratuitamente, assim como o são os eventos e postura noticiosa dos media. Na realidade esta frieza relativa à observação de acontecimentos reais, coloca já nesta altura uma certa responsabilização nos media corporativos, e sua ética. Essas imagens iniciais criam uma tensão que contrasta com a camara de Haneke, sempre suave e em plena contemplação, mero instrumento, sem qualquer poder. Sendo uma tensão muito surreal a que se cria enquanto Benny é gentil para com a rapariga, alimentando-a, e até mesmo revelando um pouco da sua própria identidade (no momento em que lhe mostra os vídeos do porco), namorando-a, envolvendo-a, até ao "momento certo" chegar, momento esse da sua passagem à maturidade. O julgamento recai ao olhar do observador, tal como é provado quando os pais ficam a saber desse seu aberrante acto, julgando-o e deambulando entre considerar essa possibilidade como real. A mãe não quer acreditar, o pai encontra-se do lado prático e realista, frio e metódico, acalma a mulher e consegue a sua cooperação.

De forma alguma o momento da morte da miúda poderá ser o centro da estória, é apenas o rito de passagem. Após isso ele começa a fumar, rapa o cabelo, desafia o pai, etc.

Na minha opinião este filme tem "more than meets the eye", specially a lazy eye.

Se não curtiste este, interrogo-me sobre o que pensarias do "Der Siebente Kontinent" [1989]

daigoro