19 March 2008

"No Such Thing", de Hal Hartley (2001)


"I'm not the monster I used to be."
http://www.imdb.com/title/tt0248190/
Esta frase abre este filme de Hal Hartley, que alguns de nós conhecerão de "Henry Fool" ( http://www.imdb.com/title/tt0122529/ ) e que mesmo desses, poucos serão os que ficaram impressionadas com o visionamento desse filme há já muitos anos no cine-clube. Devido ao estilo de "under-acting", e o texto, escrito sempre pelo próprio Hartley, ser intelectual e, para alguns, pretensioso, estes filmes não são para todos, apenas para os que 1) não têm as palas nos olhos, 2) para os fãs de cinema anti-pipoca, com algo para dizer, e com muito mais sobre o que pensar. Intelectual, não necessariamente no sentido de usar palavras caras e de expôr as ideias de forma dissecada e extensa, mas, e daquilo de que me recordo, sim o filme é algo maçudo (Henry Fool), muitas ideias e concepções são ali tratadas e pensadas, lançadas apenas, e por ter algo em comum com todo o outro cinema, que eu já tenha tido a oportunidade de assistir, da sua autoria, que é um sentido humano, extremo, profundo.

Neste filme, uma jornalista viaja para a Islândia, em busca de notícias sobre o seu noivo e respectiva equipa de reportagem, após desaparecerem quando foram para lá enviados em busca de uma notícia. Ela sente-se compelida a ir depois de chegar às "mãos" do jornal uma gravação onde um ser mítico reclama a morte da equipa.

A filmagem de Hal Hartley é simples, sem muita contemplação. Na estória está o suco. E esta rábula foi dos melhores dele que vi recentemente. O seu cinema é simples, irónico, com um sentido de humor apurado. Damos por nós a rir de situações estranhas e absurdas, que numa circunstância com um certo teor dramático como "aquela" não faria sentido a risada. Ajuda a tirar peso, mas a colocar também a verdadeira dimensão da vida. Sentido de humor em tudo. E não me venham por favor com a frase: "Há sempre alguém pior", como se esta frase fosse justificar o facto de ter de estar agradecido por algo. Este sentimento (de humor perante a vida) tem de partir de nós, porque também há sempre alguém melhor e não é por isso que desisto de sonhar, e sonhar, tanto no absurdo, como no atingível, por mais absurdo que possa este parecer. Se houvesse deus, ele seria um filho da puta muito sádico, mas com um grande sentido de humor.

O cinema de Hal Hartley é um cinema de alguém que acredita na humanidade, observando e até denunciando todos os nossos erros, malfeitorias, erros de concepção, etc, etc.

É mais do que tudo, apesar de todas as suas contrariedades, e de todos os maus exemplos, fé.
Fé na humanidade.

"Drinking helps"

2 comments:

Sergio said...

É engracado que a minha imagem de Hal Hartley ficou do mesmo visionamento que falas ("Henry fool")....ou seja, foi MESMO HA MUITO TEMPO!
ou seja, obviamente, a minha opiniao do seu trabalho JA nao é a mais correcta.
um autor a (re)visitar!

Sergio said...

Vi o "fay Grim" tb do Hartley! ;-))
(eu disse q era 1 autor a (re)visitar....)
é engracado pq a personagem do Henrry Fool tb entra...mas o mais interessante do filme (e do autor, por inerencia e tb referenciado pelo Bruno) é o ambiente estranho, onde as personagens se vem no meio de uma situaçao improvavel mas no entanto apresenta um sentido de humor pontudo e consisso, de advem de um bom argunto e cheio d bons dialogos.
concordo plenamente com a frase do Bruno:"irónico, com um sentido de humor apurado. Damos por nós a rir de situações estranhas e absurdas"
De realcar (e estranhar e degustar) é a escolha de H.Hartley por filmar muitas das cenas em plnao inclinado (a camara estar iclinada +/- 30º p um dos lados) estranho, mas o autor consegue encaixar sempre o plano certo com essa opçao. mt á frente!

p.s. "always watch good mubes" :-))))))